quinta-feira, 28 de outubro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A condição de Actor - por Tadeusz Kantor

Aqui está um texto de Tadeusz Kantor sobre a condição de actor (numa tradução brasileira), que a Helena Veloso "apanhou". Para ler e... refectir...


O desmoronamento da moral burguesa do século XIX, quando somente os maiores talentos obtinham com muita dificuldade direito de cidadania, permite enfim ao ator chegar a uma posição social normal.

A revolução social dos anos vinte faz dele um trabalhador da cultura de vanguarda. São os anos em que o construtivismo, liberando a arte dos miasmas do idealismo, fascina o mundo por sua doutrina de uma arte concebida como fator de organização dinâmica da vida e da sociedade.
À medida que se desenvolve a civilização industrial e técnica, que a arte perde em numerosos países sua posição de vanguarda e seu dinamismo, o teatro transforma-se cada vez mais em uma instituição e o ator, por conseguinte, em funcionário a ela incorporado. Os direitos que havia obtido esfacelam-se ao contato com uma sociedade de consumo cujas idéias e existência estão fundamentadas sobre um pragmatismo radical, o culto da eficácia e um sentido de automatismo hostil a qualquer intervenção perturbadora da arte.
A assimilação a essa sociedade leva à surdez artística, à indiferença e ao conformismo. Essa decadência é acelerada pela expansão dos meios de informação de massa: cinema, rádio, televisão.
Nesta etapa final reencontramos atitudes que têm estado sempre próximas uma da outra, a saber: o conformismo moral, uma indiferença absoluta quanto à evolução das formas e também a esclerose artística.
Uma certa laicização e a democratização do ator contribuíram para sua emancipação histórica, mas paradoxalmente tornaram-no medíocre.
A assimilação e a recuperação do artista e de sua arte pela sociedade de consumo encontram um exemplo típico no ator.
O ator-artista foi desarmado, aprisionado. Sua capacidade de resistência, tão importante para ele mesmo quanto para o papel que desempenha na sociedade, foi destruída, o que o leva a obedecer a todas as conveniências e leis que regem o bem-estar na sociedade de produção e de consumo, a perder sua independência, que é o que, colocando-o fora da comunidade, permite-lhe agir sobre ela.
A reforma do teatro e da arte do ator deve realizar-se em profundidade e tocar os fundamentos do ofício.
Durante um longo período de isolamento social, a atitude e a condição do ator carregaram a marca profunda de traços naturalmente saídos do mais secreto de seu psiquismo, que o distinguem da sociedade bem pensante e fazem nascer, por sua vez, formas autônomas de ação cênica.
Esbocemos uma imagem dessa personagem:
- O ATOR
- retrato nu do homem,
- exposto a qualquer transeunte,
- silhueta elástica.
- O ator,
- forasteiro,
- exibicionista desavergonhado,
- simulador fazendo demonstração de lágrimas,
- de riso,
- de funcionamento
- de todos os órgãos,
- dos vértices do espírito, do coração, das paixões,
- do ventre
- do pênis,
- o corpo exposto a todos os estimulantes,
- todos os perigos
- e todas as surpresas;
- engodo,
- modelo artificial de sua anatomia
- e de seu espírito,
- renunciando à dignidade e ao prestígio,
- atraindo os desprezos e os escárnios,
- tão perto das lixeiras quanto da eternidade,
- rejeitado pelo que é normal
- e normativo em uma sociedade.
- Ator
- que vive unicamente
- no imaginário,
- levado a um estado de insatisfação crônica
- e de insaciabilidade perante tudo
- aquilo que existe realmente,
- fora do universo da ficção,
- que o compele
- a uma nostalgia perpétua
- constrangendo-o
- a uma vida nômade.
- Ator forasteiro,
- eterno errante
- sem lar nem lugar,
- carregando em suas bagagens
- todo o seu bem,
- suas esperanças, suas ilusões perdidas,
- o que é sua riqueza
- e sua carga,
- uma ficção
- que ele defende zelosamente até as últimas conseqüências
- contra a intolerância de um mundo indiferente.

(In "Le Théâtre de la Mort". Editions L'Age d'Homme, Lausanne, 1977, p. 162-165.
Tradução de Roberto Mallet. - www.grupotempo.com.br)
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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Leituras Dramatizadas

Porquê, leituras dramatizadas?

A intenção, além de abrir novos horizontes para o contexto teatral levando as leituras para novos espaços, é também revitalizar espaços que, certas vezes por mero esquecimento e, outras, por falta de oportunidade, acabam por ser mal utilizados.
A intenção é criar uma proximidade maior entre os actores e o público.
A proposta é fazer o público embarcar nessa aventura juntamente com os actores, dado que cada um dos espectadores, assim como quando lê um livro, cria as suas próprias imagens.
Ao aproximar o teatro da leitura, pretendemos incluir também aqueles que por falta de interesse ou falta de possibilidade deixam de ter acesso à arte.

Neste contexto, apresentamos "Ser Português" e "Contos do Gin-Tonic" (posts seguintes)


Concerto Poético - "Ser Português"




É tempo de falar disto que é ser-se português A Portugalidade é um conceito que se faz presente através da abstração: “Quem nasce em Portugal é por missão ou castigo”, diz uma antiga profecia enraízada no solo fértil de Sintra. Dessa missão que é ser Português rodeado pelo Oceano por todos os lados menos por um. Portugal-Península aprisionado na mentalidade ilhéu. Porque esse oceano que nos abraça é duro como o aço. Assim é este Portugal-Alma de que nos esquecemos a cada nascer do Sol. Quando nos vemos ao espelho o dificil é não olhar para dentro.
Os Intervenientes:
Direcção: Luísa Ortigoso
Música: João Paulo Courinha
Interpretação (por ordem alfabética):
João Paulo Courinha (sax), Luísa Ortigoso (voz) e Susana Vitorino (voz)